terça-feira, 6 de março de 2012

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É. Eu achava que, quanto mais escrevesse, quanto mais livros eu fosse capaz de publicar, mais as pessoas me conheceriam. Leriam todas aquelas palavras e diriam: nossa, essa mulher é tão sincera, sua literatura é tão verdadeira, que eu nunca poderei ser desonesta com ela. Sinceramente achava que, escrevendo, eu poderia conseguir não mais me decepcionar com as pessoas. Porque a decepção, a trivial decepção, tornou-se vilã detonadora de todas as minhas intrincadas reações patológicas. Não que meus livros sejam fofinhos, deliciosos, puros, happy ends, do tipo que você imagina o amor sorridente, como um Saint-Exupéry repleto de boas intenções. Não, bem longe disso, eles são reais, e a realidade é dura. Acreditava, porém, piamente, juro, que, se as pessoas vissem esse real através das minhas palavras, não poderiam jamais mentir para mim. Ou de novo para mim. Não por qualquer tipo de constrangimento, mas por terem aprendido como é bonito falar a verdade.


Fernanda Young 
(em "As pessoas dos livros")