...eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno,
bem no meio duma praça, então os meu braços não vão ser
suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer
tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme,
só olhando você sem dizer nada... só olhando e pensando meu
Deus mas como você me dói de vez em quando..
Caio F.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
ressaca
foi, quem sabe,
uma forma de skap
pra não perceber que você estava
e não estava ali.
quem sabe, pra você perceber
o quanto eu queria estar
e não estava;
e ver, em mim,
uma possibilidade de ficar.
por ironia ou por acaso
o acaso do medo
(o medo do mesmo)
da escolha,
do ermo,
do fracasso.
de não servir
e insistir e insistir
em tentar
Ana Bar
domingo, 14 de agosto de 2011
Poema Sujo
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma? Claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
Ferreira Gullar
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
três poemas de amor
1
fosse apenas o desespero da
ocasião da
descarga de palavreado
perguntando se não será melhor abortar que ser estéril
as horas tão pesadas depois de te ires embora
começarão sempre a arrastar-se cedo demais
as garras agarradas às cegas à cama da fome
trazendo à tona os ossos os velhos amores
órbitas vazias cheias em tempos de olhos como os teus
sempre todas perguntando se será melhor cedo demais do
que nunca
com a fome negra a manchar-lhes as caras
a dizer outra vez nove dias sem nunca flutuar o amado
nem nove meses
nem nove vidas
2
a dizer outra vez
se não me ensinares eu não aprendo
a dizer outra vez que há uma última vez
mesmo para as últimas vezes
últimas vezes em que se implora
últimas vezes em que se ama
em que se sabe e não se sabe em que se finge
uma última vez mesmo para as últimas vezes em que se diz
se não me amares eu não serei amado
se eu não te amar eu não amarei
palavras rançosas a revolver outra vez no coração
amor amor amor pancada da velha batedeira
pilando o soro inalterável
das palavras
aterrorizado outra vez
de não amar
de amar e não seres tu
de ser amado e não ser por ti
de saber e não saber e fingir
e fingir
eu e todos os outros que te hão-de amar
se te amarem
3
a não ser que te amem
samuel beckett
as escadas não têm degraus 3
trad. miguel esteves cardoso
livros cotovia
março 1990
fosse apenas o desespero da
ocasião da
descarga de palavreado
perguntando se não será melhor abortar que ser estéril
as horas tão pesadas depois de te ires embora
começarão sempre a arrastar-se cedo demais
as garras agarradas às cegas à cama da fome
trazendo à tona os ossos os velhos amores
órbitas vazias cheias em tempos de olhos como os teus
sempre todas perguntando se será melhor cedo demais do
que nunca
com a fome negra a manchar-lhes as caras
a dizer outra vez nove dias sem nunca flutuar o amado
nem nove meses
nem nove vidas
2
a dizer outra vez
se não me ensinares eu não aprendo
a dizer outra vez que há uma última vez
mesmo para as últimas vezes
últimas vezes em que se implora
últimas vezes em que se ama
em que se sabe e não se sabe em que se finge
uma última vez mesmo para as últimas vezes em que se diz
se não me amares eu não serei amado
se eu não te amar eu não amarei
palavras rançosas a revolver outra vez no coração
amor amor amor pancada da velha batedeira
pilando o soro inalterável
das palavras
aterrorizado outra vez
de não amar
de amar e não seres tu
de ser amado e não ser por ti
de saber e não saber e fingir
e fingir
eu e todos os outros que te hão-de amar
se te amarem
3
a não ser que te amem
samuel beckett
as escadas não têm degraus 3
trad. miguel esteves cardoso
livros cotovia
março 1990
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
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